Até onde vai a diplomacia?
UNESCO: Discussão sobre saúde mental esquece de levar em consideração a dos próprios delegados
Por Thiago Vinícius

Indignação do delegado da Guiana (Fonte: MOCS)
Durante a primeira sessão na UNESCO, na qual se debatia sobre a influência do ambiente educacional no desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, algumas delegações aqueceram um pouco as discussões ao se pronunciarem a favor da pressão e das cargas horárias excessivas nas escolas, dizendo que é preciso “ralar”, como dito durante as discussões, para que “nos tornemos alguém na vida”, e até dizendo que “bullying é coisa de esquerdista”. A saúde mental é um tema extremamente delicado de se abordar e que deve ser levado com muito cuidado para que certos gatilhos não sejam acionados durante as discussões. Além disso, ainda foi debatido a meritocracia no processo de melhora de vida, o que, mais uma vez, gerou divergências.
As tensões já estavam exacerbadas, mas não há nada ruim que não possa piorar. Na segunda sessão, os discursos preconceituosos começaram a aparecer e muitas pessoas sentiram na pele o peso daquelas palavras, principalmente seus próprios autores. Frases como “homossexualismo é crime no meu país” foram ditas, e lágrimas foram derramadas.
Apesar de ser uma frase totalmente inaceitável, é (infelizmente) a postura de alguns países presentes no comitê, e também devemos considerar que foram ditas seguindo a diplomacia necessária para tal. Por isso, representando tal posicionamento, delegados disseram coisas absurdas até mesmo para elas mesmas, destacando, mais uma vez, que os que mais sofreram com esses discursos foram seus oradores, que eram até os próprios alvos de suas palavras.
Quando a mesa tomou conhecimento do que estava acontecendo, decidiu agir e tomar atitude para que não se repetisse, orientando os delegados a tomarem mais cuidado com a escolha das palavras. Muitas vezes, durante um comitê, nos deixamos levar pela emoção do momento e acabamos dizendo coisas em favor do posicionamento de nossos países, mas que, de forma alguma, refletem o nosso pensamento.
Precisamos ter muita cautela ao representar uma política extremista em um comitê. É compreensível que algumas coisas devem ser ditas para garantir uma boa representatividade, porém também devemos pensar que essa não é a realidade das pessoas que habitam por detrás de cada delegado. Considerando que o rumo do comitê estava se inclinando a ofensas diplomáticas, é desnecessário o uso de palavras tão ofensivas e que não acrescentam ao objetivo principal. Em um comitê no qual a saúde mental é o tema em questão, pode-se dizer que esta não foi uma contribuição positiva.

